terça-feira, 16 de outubro de 2012
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Ocultismo
De acordo com o teosofista C. W.
Leadbeater, o ocultismo costuma ser confundido com a arte de magia negra,
envolvendo poções mágicas e rituais satânicos. Mesmo entre aqueles cuja
educação estaria acima de tais superstições, segundo o autor do livro “O Lado
Oculto das Coisas”, ainda persistem muitos equívocos a esse respeito.
Explica-nos Leadbeater que a
derivação da palavra latina “occultus” quer dizer ciência do oculto, mas essa
definição, de um modo geral, é vista como uma coisa sem sentido, um disparate
relacionado a crendices ignorantes, assombrações e espiritismo.
Os mais estudiosos do assunto nem
sempre encaram a questão com o necessário conhecimento de causa, sugerindo que
o lado oculto de todos esses mistérios estivesse intencionalmente velado,
deliberadamente sonegado, por capricho ou egoísmo de alguns. A verdade,
conforme afirma Leadbeater, é que nada está, nem poderia estar
oculto de nós, a não ser em razão de nossas próprias limitações. Mas, à medida
que avançamos em evolução, o mundo se alarga progressivamente, mostrando que
todos nós somos capazes de ver cada vez com maior clareza a magnitude de toda a
sua beleza.
Há de se considerar, porém que, os
conhecimentos somente vão sendo colocados à nossa disposição quando atingimos
um grau de evolução que nos permite absorvê-los. Ocorre, em tais situações,
algo semelhante à criança que, ainda num aprendizado básico, não está preparada
a compreender equações e raiz quadrada.
O ocultismo é, portanto, na definição
do teosofista, o estudo do lado oculto da natureza, da natureza em sua
totalidade, e não somente daquela parcela mínima que é objeto da investigação
da ciência moderna.
Afirmava o autor de “O Lado Oculto
das Coisas”, há cerca de cem anos atrás, e de lá para cá bem pouco mudou, que a
maior parte da natureza é inteiramente desconhecida da humanidade, porque esta
ainda não desenvolveu, senão em proporção insignificante, as faculdades mais
sensitivas que possui. Diante disso, não há como
deixar de concluir que, o homem comum baseia a sua vida em realidades
inteiramente inadequadas, e, por isso, suas teorias e ações são naturalmente incorretas.
Um ocultista adota atitudes que levam
em conta as influências dos mundos superiores, as quais estão ocultas à visão
dos materialistas. Estes não têm a menor percepção das suas próprias
limitações, e projetam o seu futuro com base naquele pouco, ou quase nada, que
conhecem e que pensam resumir toda a verdade do universo.
O ocultista estuda cuidadosamente
todos os efeitos invisíveis que interferem com o plano físico, e por isso sabem
melhor do que ninguém, quais são as reais conseqüências dos seus atos. E por
possuírem maiores informações sobre as causas e os efeitos das suas ações, eles
mudam de atitudes e corrigem seus comportamentos, á medida que vão percebendo
desvios em seus rumos espirituais.
Não se trata de somente vincular o mundo oculto a fenômenos espirituais
e cerimônias religiosas, mas de reconhecer a sua
presença na pintura, na música, na poesia, na literatura, na natureza, na vida
profissional e nas relações em família.
Essas percepções do mundo oculto
existem em todos os seres humanos, ainda que não desenvolvidas na grande
maioria deles. O despertar da sensibilidade humana para se conectar ao mundo
invisível demanda tempo e um árduo trabalho, e depende do estágio de evolução
de cada alma.
O momento atual de expansão da
consciência planetária é favorável a esse despertar dos poderes ocultos da
humanidade, mas que isso não instigue os sentidos mais egoístas e dominadores
da raça humana, para que, no lugar das bênçãos, não se atraia maldições.
Os mistérios que já começaram a ser decifrados estarão sendo revelados
de uma forma cada vez mais intensa. Os segredos, não, esses nunca serão revelados, pois pertencem a uns poucos,
que irão guardá-los para si e para as gerações futuras. Os mistérios existem
para serem desvendados, mas os segredos precisam ser preservados.
O ocultista é aquele sábio que
distingue os mistérios dos segredos, e que traz os conhecimentos à tona para
que os mistérios sejam compreendidos por um número cada vez maior de pessoas. O
ocultista é também o guardião dos segredos, aquele que sabendo do poder que tem
o conhecedor dos segredos, não os revela para ninguém, de modo a não pôr em
risco o futuro da humanidade.
Os mistérios contêm a sabedoria dos
tempos, os segredos são os guardiões do poder.
FIM
domingo, 26 de agosto de 2012
Santa Sara
~ Os ciganos e a Deusa Mãe ~
Uma vez por ano, ciganos de diversas partes do mundo se dirigem até Saintes-Maries-de-la-Mer, no sul da França, para homenagear a santa Sarah. Segundo a tradição, Sarah era uma cigana que vivia em uma pequena cidade à beira mar quando a tia de Jesus, Maria Salomé, chegou ali com outros refugiados para escapar das perseguições romanas. Sarah ajudou-os e terminou convertendo-se ao cristianismo.
Na festa a que pude assistir, peças do esqueleto de duas mulheres que estão enterradas debaixo do altar são retiradas de um relicário e levantadas para abençoar a multidão com suas roupas coloridas, músicas e instrumentos. Em seguida, a imagem de Sarah, vestida com belíssimos mantos, é retirada de um local perto da igreja (já que o Vaticano jamais a canonizou) e é levada em procissão até o mar por ruelas cobertas de rosas. Quatro ciganos, vestidos com roupas tradicionais, colocam as relíquias em um barco cheio de flores, entram na água e repetem a chegada das fugitivas e o encontro com Sarah. A partir daí, tudo é música, festa, cantos e demonstrações de coragem diante de um touro.
É fácil identificar Sarah como mais uma das muitas virgens negras que podem ser encontradas no mundo. Sarah-la-Kali, diz a tradição, vinha de uma nobre linhagem e conhecia os segredos do mundo. Seria, no meu entender, mais uma das muitas manifestações do que chamam a Grande Mãe, a Deusa da Criação.
Cada vez mais, o festival em Saintes-Maries-de-la-Mer atrai gente que nada tem a ver com a comunidade cigana. Por quê? Porque o Deus Pai é sempre associado ao rigor e à disciplina do culto. A Deusa Mãe, pelo contrário, mostra a importância do amor acima de todas as proibições e tabus que conhecemos.
O fenômeno não é novidade: sempre que a religião endurece suas normas, um grupo significativo de pessoastende a ir em busca de mais liberdade no contato espiritual. Isso aconteceu durante a Idade Média, quando a Igreja Católica limitava-se a criar impostos e construir conventos cheios de luxo. Como reação, assistimos ao surgimento de um fenômeno chamado “feitiçaria”, que, apesar de reprimido por causa de seu caráter revolucionário, deixou raízes e tradições que conseguiram sobreviver por todos esses séculos.
Nas tradições pagãs, o culto da natureza é mais importante do que a reverência aos livros sagrados. A Deusa está em tudo, e tudo faz parte da Deusa. O mundo é apenas uma expressão de sua bondade. Existem muitos sistemas filosóficos — como o taoísmo ou o budismo — que eliminam a ideia da distinção entre o criador e a criatura. As pessoas não tentam mais decifrar o mistério da vida, e sim fazer parte dele.
No culto da Grande Mãe, o que chamamos de “pecado”, geralmente uma transgressão de códigos morais arbitrários, é bem mais flexível. Os costumes são mais livres, porque fazem parte da natureza e não podem ser considerados como frutos do mal. Se Deus é mãe, então tudo o que é necessário é juntar-nos aos ciganos e adorá-la através de ritos que procuram satisfazer sua alma feminina — como a dança, o fogo, a água, o ar, a terra, os cantos, a música, as flores, a beleza.
A tendência vem crescendo de maneira gigantesca nos últimos anos. Talvez estejamos diante de um momento muito importante na história do mundo, quando finalmente o Espírito se integra com a Matéria, os dois se unificam, e se transformam.
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